Mudanças Climáticas – o que eu tenho a ver com isso?

(Itajaí - 16/03/2021) Desde o início da evolução da vida na Terra, cada geração de seres vivos deixou um ambiente mais adequado à diversidade da própria vida. A evolução dos organismos, assim, se confunde com a evolução dos ecossistemas e da biosfera. Neste processo, a temperatura da atmosfera foi se adequando gradativamente à vida – e a vida à temperatura – durante bilhões de anos.

 

 A ciência registra, porém, a ocorrência de períodos nos quais algum tipo de catástrofe provocou descontinuidade neste caminho, como a colisão com um meteoro, por exemplo. Nestes períodos, grande quantidade de espécies foram extintas em períodos relativamente curtos de tempo. Há evidências de terem ocorrido cinco destes períodos nos cerca de 4 bilhões de anos da história da vida na Terra. O último deles aconteceu a 65 milhões de anos atrás, cerca de 500 vezes mais tempo do que a existência do ser humano no planeta.

 

Medindo a velocidade com que espécies estão se extinguindo hoje, diversos cientistas descobriram que estamos vivendo a sexta e mais generalizada extinção de espécies que já aconteceu. Esta deverá incluir os seres humanos e, diferentemente das outras, agora seremos nós a catástrofe responsável pela extinção. Estamos vivendo este período - chamado Antropoceno – no qual a espécie mais desenvolvida biologicamente está a extinguir grande parte das demais e a si própria, principalmente a partir das mudanças climáticas geradas pela vida humana no planeta. Desde o período da Revolução Industrial, já aquecemos a Terra em pelo menos 1,5°C. Pode parecer pouco, mas é muito, e em muito pouco tempo. Variações desse tipo até ocorreram ao longo da história, mas em escala de milhares a milhões de anos, o que permitiu a adaptação e evolução gradativa da vida.

 

De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) - formado por centenas de pesquisadores de diversos países e convocados pela Organização das Nações Unidas (ONU) - para reduzir os efeitos das mudanças climáticas é fundamental limitar o aquecimento global a 1,5 ºC, o que demanda mudanças rápidas, profundas e sem precedentes em todos os setores da sociedade. Também exige transições abrangentes em energia, indústria, edificações, transporte e nas cidades. Para que o aquecimento não ultrapasse 1,5 ºC, até 2030 as emissões globais de dióxido de carbono (CO2) causadas pelo ser humano devem ser reduzidas em cerca de 45% (em relação aos níveis de 2010) e, até 2050, chegar a um balanço zero (remover da atmosfera tudo que for emitido).

 

Porém, as projeções dos modelos climáticos do IPCC indicam que, seguindo a linha das atuais emissões, o Planeta aquecerá mais de 3 ºC ainda neste século. As consequências envolvem rápida extinção de milhares de espécies de plantas e animais; aumento das inundações em cidades litorâneas, afetando diretamente quase 300 milhões de pessoas no mundo (sendo 4 em cada 5 pessoas na Ásia); aumento na temperatura média na maioria das regiões terrestres e oceânicas, extremos de temperatura na maioria das áreas habitadas e extremos climáticos em outras regiões, como precipitação intensa ou probabilidade de seca; aumento de doenças transmitidas por vetores (como malária e dengue); aumento dos riscos para as atividades agrícolas e para as atividades pesqueiras, entre vários outros sérios impactos.

 

img corais branqueamento fonte Redacao CicloVivo

 

Estes impactos envolvem riscos desproporcionais para a população, sendo mais intensas para os grupos sociais vulneráveis e mais pobres, como povos indígenas e comunidades locais dependentes de meios de subsistência agrícolas ou costeiros. Com isso, haverá aumento da pobreza, da fome e das desigualdades sociais, fenômenos que já vêm sendo percebidos. E se alguém acha que é rico o suficiente para viver numa bolha, é porque de fato nunca percebeu que não há vida sem cooperação.

 

A conclusão das projeções científicas é óbvia: é fundamental que cada ser humano esteja consciente de ações possíveis para a redução das mudanças climáticas - e possa colocá-las em prática no seu modo de vida. Quanto menos consumo desnecessário, menos gasto de energia, menos embalagens, menos "eu" e mais "nós", menos aquecimento global. E, provavelmente, mais felicidade também.

 

Porém, não se trata apenas de ações individuais. Sem a reversão urgente do modelo de crescimento econômico ilimitado e de concentração vertical de renda, ações individuais não terão efeito significativo. É fundamental, por exemplo, a contenção imediata do desmatamento e da concentração fundiária, em conjunto com fortes estímulos para a manutenção das populações no meio rural, em especial na agricultura familiar e na pesca artesanal, utilizando conhecimentos e tecnologias sustentáveis. É fundamental a transformação da educação, de uma base competitiva para uma base colaborativa, que possa reverter em adequações dos sistemas produtivos, de trabalho e de comércio; é urgente a implementação de tecnologias limpas e de baixo custo em todos os ramos econômicos. É igualmente fundamental a redução do imenso abismo de condições sociais entre pobres e ricos no planeta, entre outras medidas urgentes.

 

Portanto, é urgente e preciso, em última análise, que os governos - como representantes das pessoas - nos níveis municipal, estadual, federal e em acordos internacionais, possam tomar medidas imediatas e transformadoras e considerem realmente a vida humana e de todas as espécies como prioridade. Caso contrário, a história dessa geração será contada, pelas poucas gerações que ainda virão, como a que definiu nossa extinção.

Texto: Walter Steenbock